Privilégio sim, direitos básicos também
Os questionamentos que têm nos assolado com mais intensidade no último mês são mais do que uma simples questão econômica, é de uma urgência de vida ou morte. Quem é que tem o privilégio de ficar em casa em isolamento para salvaguardar sua vida e a vida dos seus? Quem é que pode se dar ao luxo de fazer o tão aclamado home office?
Primeiro é necessário que pensemos sobre privilégios. O que é privilégio?
Fonte: Michaelis Online
Levando ao pé da letra a palavra, então são pouquíssimos aqueles brasileiros que terão a capacidade de se isolarem do mundo em seus iates e casas milionárias, bem distantes de tudo e de todos.
O brasileiro normal vai passar por uma quarentena complicada, com muitas informações desencontradas do governo, com medidas duvidosas e por vezes, inescrupulosas. Alguns poucos até poderão ficar em casa, sustentando-se com um salário integral, sem cortes, ou com um emprego que os possibilite trabalhar a distância. Mas a que preço?
A quem sobra a responsabilidade das crianças que estão em casa sem aulas? Quem paga a conta de energia quadruplicada por esse tempo de uso, já que todos estão usufruindo de seus lares mais do nunca? Quem cozinha? Lava? Passa? E ainda por cima precisa aprender uma nova língua, fazer cursos on-line, render no trabalho, inventar novas formas de ganhar dinheiro para cobrir as contas no fim do mês?
Então, não pense que você estar em casa e poder desfrutar de tudo isso é um privilégio, são apenas os direitos humanos básicos, de acesso à moradia, à saúde, à vida, ao trabalho, ainda funcionando para você. Porque uma coisa é certa, ainda que queiramos (quem consegue ficar em casa, óbvio) chamar de privilégio esse gostinho de poder permanecer em casa, a grande, a maioria dos brasileiros, não pode. Não pode se dar ao luxo de deixar de sair para trabalhar, fazer 'os corres', é isso ou ficar em casa com fome, ver seus filhos minguarem, ver o despejo se aproximar.
O que desejamos a esses?
Nessa loucura de tempos de COVID-19, quarentena autoimposta e desgoverno, novas relações de lugar vão se estabelecendo em nossas vidas. Lugares que vão surgir de novas relações sociais que são geradas, e continuarão sendo, pós-crise.
Esperemos que nasçam novas oportunidades de alterar essa realidade de um pensamento privilegiado para um real acesso aos direitos básicos para todos.
Enquanto isso, construa pequenas ações com seus vizinhos ou familiares, distribua alimentos ou produtos de higiene, se conseguir, mantenha pequenos financiamentos para trabalhadores autônomos, se informe sobre o assunto, não caia em fake news, ou simplesmente, faça o seu melhor em não perder a cabeça, e...
Fique em casa!
Se puder.
Larissa Zuim
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