O ensino de Literatura no ensino médio. Por quê não ensinar?
A Literatura surgiu nos primórdios da humanidade como uma forma de exaltar a convivência social e transmitir para as novas gerações suas tradições e cultos religiosos. No início, os registros dessa Literatura eram, basicamente, orais e na forma de arte (pinturas, artesanatos, canções, lendas, etc), então, todos da comunidade participavam ativamente desse processo de criação literária.
Com o surgimento da escrita e da leitura, a Literatura passou por um processo de sistematização de ensino e da própria criação, entretanto, ela não deixou de ser uma arte pela qual o homem se vale para conhecer a realidade e manter sua comunicação com o mundo. Através dessa arte (a Literatura) o homem pode avaliar a história da humanidade e conhecer a si mesmo de uma forma mais crítica e analítica, mesmo que seja uma análise subjetiva, já que, como diz Compagnon, um estudioso da área, “a subjetividade moderna desenvolveu-se com a ajuda da experiência literária, e o leitor é o modelo de homem livre. Atravessando o outro, ele atinge o universal...”.
Ou seja, a Literatura é essencial para o desenvolvimento, assim como é essencial o ensino literário nas escolas para crescimento intelectual e crítico dos alunos. Com a pesquisa e o ensino da Literatura o professor poderá articular os alunos de forma a vê-los transformados em criadores e críticos, não só literários como também da sociedade. Por esses motivos, a Literatura não pode ser vista simplesmente como o uso estético da linguagem escrita, ela é muito mais que isso, ela organiza o pensamento, dá coerência a uma linguagem densa e complexa. Por isso, ela deve ser vista como um trampolim para novos caminhos de conhecimento, uma vez que, como se dizia no Iluminismo, ela tem a função de libertar o indivíduo de sua sujeição às autoridades.
Entretanto, esse trampolim não tem um salto fácil, na maioria das vezes, ele causa vertigens pela sua altura. É importante que esse ensino não seja tão programático a ponto de transformar aquilo que era para ser prodesse aut delectare (instruir ou agradar) em algo monótono e com poucos resultados.
Em grande parte das escolas, com o curto tempo e o grande conteúdo a ser passado, o estudo da Literatura se resume à contextualização histórica das obras e a quais escolas literárias ela pertence apresentando trechos pequenos dos livros, sem incentivar o aluno a fazer uma leitura completa e aprofundada. Dessa forma, fica difícil a compreensão do sentido da obra como forma de interpretação de uma determinada camada de sociedade deixando de existir o aproveitamento do que é literário, que ajuda o aluno a ser mais crítico sobre sua história e sobre si.
A Literatura deveria oferecer um meio, pelo qual os alunos entrariam em contato com a experiência daqueles que estão distantes deles no espaço e no tempo ou se encontram em realidades diferenciadas. Tornando-os sensíveis ao fato de que a diversidade é uma forma de aprendizado.
O problema que se tem com o ensino de Literatura no Ensino Médio é ainda maior, uma vez que, ele fica restrito à leitura de livros do vestibular, sem que haja nenhum outro estímulo por parte do professor em fazer do ensino e prática da Literatura uma forma de fazer seus alunos pensarem. Surge então, a necessidade de práticas pedagógicas mais elaboradas que tenham relações de ensino e aprendizagem mais em conjectura com os níveis de conhecimento e de influência do professor. Ele também tem que se ver em domínio dos procedimentos didáticos que possibilitem um amplo aprendizado.
Dessa forma, o professor deve ter em mente que assim, ele favorecerá o ensino dos alunos “a beira” do vestibular. Também deve ser levado em conta que em uma sala de quarenta alunos, que é o que os professores da rede pública enfrentam, dificilmente se encontrará níveis iguais de aprendizado, admitindo isso, já teremos dado um passo na frente dos professores tradicionais que tratam uma turma tão diversificada como uma massa uniforme que deve transbordar sua cabeça com análises sintáticas e equações de segundo grau, enquanto, nem ao menos sabem interpretar uma informação contida em um parágrafo.
Organizando o tempo e o espaço das situações de ensino e aprendizagem poderemos criar realidades novas ou até mesmo maximizar realidades já conhecidas, como a leitura. Ao invés, por exemplo, de tratar a leitura como um item obrigatório da carga específica da disciplina de Português, podemos tratá-la como algo prazeroso e que não tenha que ser feita de forma solitária ou monótona, organizando espaços e tempos na própria escola para que esses alunos desenvolvam de maneira diferente o gosto pela leitura, respeitando um dos tópicos do livro de Parâmetros Curriculares Nacionais, que rege o ensino brasileiro: “Assim, os conteúdos, competências e habilidades são diferenciados, para que se possa detectar o que o aluno sabe”. (4.6. A Matriz de referência de Língua Portuguesa: Tópicos e seus descritores - 4ͣ série/5º ano e 8ͣ série/9º ano do Ensino Fundamental).
É modificando, ou ao menos tentando modificar, os métodos de aprendizagem que é possível acabar com mitos tão enraizados na rede de ensino brasileira. Já que, teóricos como Rosaura Soligo dizem, não basta ler, tem que entender.
Para Marcos Bagno, um outro lingüista, todos devem ter acesso à cultura para saber usá-la quando lhe for necessário.
A literatura tem que ser vista como uma prática social e cultural, um item de diferenciação e de democratização do ensino. O fato do Brasil não ser uniforme, nos garante uma riqueza linguistica muito maior do que se fosse ao contrário, e é por isso, que podemos dizer que temos obras literárias, poéticas e musicais tão bonitas quanto temos.
Por Larissa Matarésio
Por Larissa Matarésio
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